O Castigo Eterno - H. Bouter Jr.

O que as Escrituras dizem concernente à natureza do castigo eterno? Os cristãos que levam a Bíblia à sério creem na natureza perpétua do castigo eterno. Por mais horrível que isso possa parecer, o castigo no inferno não tem fim. A Bíblia também expõe claramente as características do castigo eterno. Aqueles que defendem a doutrina do Universalismo minimizam o significado do castigo eterno, tanto no sentido de sua extensão quanto de seu teor. Afirmam, por exemplo, que "...as Escrituras não ensinam um castigo literal, porém descrevem o inferno simplesmente no sentido metafórico, já que usam palavras como fogo, verme e trevas, que são apenas imagens e não deveriam ser tomadas literalmente. Onde existe fogo" — afirmam os Universalistas —, "não poderiam existir trevas simultaneamente". Todavia as Escrituras falam de três coisas para nos apresentar a natureza do castigo eterno: fogo inextinguível, verme que não morre e trevas exteriores. Vamos considerar cada uma dessas características uma a uma.

Fogo eterno

Existem vários nomes usados para isso: “a fornalha de fogo” (Mt 13:42 , 50; cf. Ap 9: 2), “fogo eterno” (Mateus 18: 8), “inferno, .. o fogo que nunca se apaga” (Mc 9:43). O fogo eterno do inferno (Gehenna), o lago de fogo, está preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25:41; cf. Ap 20:10). O fato de que não serão apenas anjos, mas também pessoas que serão lançadas neste fogo que nunca se apaga — eternamente na companhia do príncipe dos anjos caídos — será porque, durante sua vida aqui na terra, elas não se afastaram o príncipe e deus desta era que cegou suas mentes (2 Co 4:4).

Esta primeira figura descreve como os ímpios serão torturados pelo fogo eterno do juízo. O fogo é um símbolo da ira de Deus, que é chamado de “fogo consumidor” e “fogo eterno” (Dt 4:24; Dt 9:3; Isaías 33:14; Hb 12:29). É questionável, no entanto, se deveríamos estar pensando aqui sobre o atributo pessoal de Deus, ao invés de sua expressão externa que atingirá os ímpios por toda a eternidade. De fato, seríamos capazes de imaginar o “lago de fogo”? Isso também é chamado de “o lago de fogo e enxofre”, o que talvez sugira que esse quadro é parcialmente derivado do julgamento de Sodoma e Gomorra, quando Deus fez chover enxofre e fogo dos céus (Gn 19:24 etc.) e também da palavra “fornalha” no versículo 28).

Embora seja correto dizer que a Escritura usa linguagem figurada para descrever a realidade do céu e do inferno, isso não altera de modo algum o fato de que estamos lidando com a existência literal de lugares e coisas reais. Essas imagens são emprestadas de nossa realidade terrena para nos dar uma compreensão de outra realidade sobrenatural. Por exemplo, o nome Gehenna (inferno) foi derivado do vale do filho de Hinom, (em hebraico “Ge-Hinnom”), perto de Jerusalém, onde crianças foram queimadas como sacrifícios para Moloque e onde, após as reformas de Josias, todos os tipos de imundícies foram coletadas e queimadas (2 Rs 23:10; 2 Cr 28: 3; 33: 6; Jr 32:35).

O lugar onde o verme não morre

O inferno também é o lugar onde o verme não morre. Uma comparação com Isaías 66:24 e Atos 12:23 mostra que isso indica o processo de decomposição de um cadáver na sepultura. Esse processo começou com o próprio Herodes mesmo enquanto ele ainda estava vivo, sendo um julgamento de Deus por causa de seu orgulho. Ele foi comido por vermes e morreu. Enquanto o processo de decomposição no túmulo normalmente termina, não é o caso da segunda morte. No inferno seu verme (singular!) não morre e o fogo não se apaga (Mc 9:48). Isso geralmente recebe um significado espiritual, estando conectado com o interminável remorso dos perdidos. O roer do verme, então, se refere ao fato de eles serem consumidos pelo remorso e/ou pelo medo, nas agonias sofridas ali. Como a expressão “seu verme” está no singular, seria fácil identificar o verme com a consciência individual. Embora esta seja uma explicação muito plausível, pode-se objetar que parece ignorar o “consumo” do corpo. Se considerarmos que após o fim do reinado de Cristo os perdidos serão ressuscitados e julgados e então lançados na segunda morte com espírito, alma e corpo (Ap 20: 5- 11 etc.), isso sugere que o mesmo corpo estará sujeito a uma destruição sem fim, a um “processo de decomposição” sem fim.

Os perdidos são referidos como “os mortos” e serão designados para o reino que é chamado de “a segunda morte”. Aqui tudo é marcado pela morte; a morte tem poder sobre os “mortos”. De acordo com Apocalipse 20 esta segunda e última morte é “o lago de fogo”. O reino da morte, onde o verme não morre é, portanto, também um lugar de tormento no sentido físico. Essa ideia é confirmada pelas palavras do próprio Senhor: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10:28).

Trevas exteriores

A terceira figura dada é aquela das trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes (Mt 8:12; 22:13; 25:30; 2 Pe 2:17; Jd 13). Esta figura também foi tirada da realidade terrena. Dentro do salão de banquetes há alegria e luz, mas lá fora é noite e aqueles que estão fora não compartilham da alegria dos que estão dentro. Esta figura mostra o nítido contraste com a atmosfera de alegria e luz na casa do Senhor, em Seu reino. Pois esta é a sala de banquete onde a festa de casamento é realizada e onde a comunhão com Deus é desfrutada. Deus é luz, e não há nele treva nenhuma (1 Jo 1: 5). Os incrédulos foram removidos deste reino de luz e amor. Assim como as virgens loucas, elas estão na escuridão, diante de uma porta fechada (Mt 25:10 etc.), e assim como Judas, elas saem pela noite (Jo 13:30). Estão separados de Deus para sempre e vivem nas trevas, longe de Sua face gentil. Neste lugar de escuridão exterior, não há sequer um raio de luz a ser visto e não há mais esperança nem expectativa. Há apenas uma escuridão impenetrável. É um lugar de choro, de sofrimento eterno. Há também ranger de dentes. Isso pode se referir não apenas ao remorso, mas também à raiva; uma eterna rebelião contra Deus. Choro e ranger de dentes são certamente características tanto da escuridão exterior quanto da fornalha de fogo (Mt 13:42, 50). Isso indica claramente que as duas figuras, a do fogo e a da escuridão, são aproximadamente a mesma realidade aterradora.

Embora chocante, é benéfico refletir sobre essas coisas, pois isso nos ajuda a perceber até certo ponto o quanto o Senhor deve ser temido (2 Co 5:11), e essa consciência nos leva a persuadir os outros. Como já foi mencionado, esta terceira imagem do castigo eterno levanta a questão de como as trevas exteriores podem ser combinadas com o fogo inextinguível da primeira imagem. O fogo se espalha e onde o fogo queima não pode ser escuro. No entanto, não devemos tirar conclusões da realidade física ao nosso redor e aplicá-las a realidades sobrenaturais que estão além de nossa compreensão. Por outro lado, devemos certamente levar a sério os conceitos indicados por essas imagens, por exemplo, não limitando as trevas a algo como “escuridão moral”. As Escrituras usam claramente essas imagens aparentemente contraditórias para nos dar uma impressão, a partir de diferentes pontos de vista, da seriedade do castigo eterno.

H. Bouter Jr. - extraído de “Truth & Testimony” Vol. 2, No. 2, 1993
via stempublishing.com/magazines/TT/93_02.html
Tradução Marcio Freitas

https://manjarcelestial.blogspot.com/2018/06/o-castigo-eterno-h-bouter-jr.html

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